Levy
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Hoje é dia de FilosofiaA Filosofia é um saber mais profundo, um conhecimento abrangente que, desde sua origem, é pautado pela incessante busca pelo (verdadeiro) motivo das coisas.

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Mensagem por Levy Sáb maio 30, 2015 9:20 pm

Hoje é dia de FilosofiaA Filosofia é um saber mais profundo, um conhecimento abrangente que, desde sua origem, é pautado pela incessante busca pelo (verdadeiro) motivo das coisas.

the walking dead
19 de fevereiro de 2015
The Walking Dead e a Filosofia. Os valores morais, éticos e religiosos em um mundo pós-apocalíptico
Aviso: Este artigo analisa a série televisiva e pode conter spoilers. A trama retratada na história em quadrinhos não é objeto de nossa análise

Se você não fez parte de uma experiência de criogenia, nem fez um retiro espiritual no Tibet nos últimos quatro anos, certamente já ouviu falar em The Walking Dead. A série é desenvolvida por Frank Darabont e baseada nos quadrinhos de mesmo nome criado por Robert Kirman, Tony Moore e Charlie Adlard. The Walking Dead estreou dia 31 de outubro de 2010 (dia do Halloween americano) no canal a cabo AMC. A estreia internacional foi durante a primeira semana de novembro do mesmo ano, na Fox Internacional.

The Walking Dead tem como protagonista Rick Grimes (interpretado por Andrew Lincoln), e gira em torno da vida desse vice-xerife que acorda depois de um coma e se vê em mundo pós-apocalíptico dominado por zumbis.

Os primeiros episódios tem como tema central a busca de Rick pela sua família e sua inserção em um grupo de sobreviventes ao longo do caminho. Depois de encontrar sua família e tentar assimilar o contexto desse novo mundo em que se encontra, o vice-xerife assume a responsabilidade de liderar o grupo e tentar achar, a cada dia, um modo de sobreviver.

É interessante o fato de os criadores da trama terem criado um “universo alternativo” em que filmes de zumbis não foram feitos. Produções como White Zombie (dirigido por Victor Halperin, de 1932), Noite dos Mortos-Vivos (dirigido por George Romero, de 1968), este último considerado o “pai” dos filmes modernos que tratam do tema, ou mesmo Madrugada dos Mortos (dirigido por Zack Snyder, de 2004) nunca chegaram a ser filmados nesse outro universo de The Walking Dead.

Isso garante maior grau de dramaticidade ao contexto da trama, fazendo com que os personagens descubram por si mesmos como reagir aos ataques e encontrar novas formas eficazes de matar os zumbis, nome, aliás, que não é mencionado na série, confirmando o desconhecimento dos personagens em relação à temática dos zumbis.

O título da série é uma referência aos sobreviventes e não aos mortos, fato esclarecido nos minutos finais do décimo episódio da quinta temporada (Them), quando o personagem Rick diz que eles próprios, os sobreviventes, são os “the walking dead”, declaração contestada por Daryl Dixon (interpretado por Norman Reedus), personagem original da série televisa, não fazendo parte dos quadrinhos, mas que caiu no gosto dos fãs.

A série gira em torno dos conflitos entre os personagens e o novo mundo que lhes é imposto. Várias temáticas sociais e filosóficas são abordadas no decorrer dos episódios e apresentaremos alguns a seguir.

Salientamos que este artigo não tem como objetivo esgotar os temas, haja vista que outros assuntos podem ser abordados e novos episódios podem trazer novos questionamentos. Nossa abordagem se limitará a tratar dos temas que entendemos ser de maior relevância e que aparecem com mais frequência na trama da série.

The Walking Dead e os Pré-Socráticos: o mundo em constante mudança

the walking dead rick

A filosofia dos pré-socráticos é baseada na ideia do devir, o mundo em constante mudança. Para Heráclito, filósofo nascido em Éfeso por volta de 540 a.C., tudo que existe está em transformação.

Ele é considerado o pai da dialética e chamou de devir a constante mudança do mundo. É dele a frase “nada é permanente, exceto a mudança” e também “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras”.

O devir representa sempre uma alternância entre os contrários. Essa guerra entre os opostos é a realidade, aquilo que podemos afirmar que existe. Para Heráclito, “a doença faz da saúde algo agradável e bom”, pois na ausência de doenças jamais iríamos valorizar a saúde, pois não saberíamos que seria algo agradável (saúde) em comparação a algo ruim (doenças).

Para o filósofo, esse fluxo permanente entre os opostos não produz o caos. Pelo contrário, é ele que garante a harmonia do Universo. Assim como uma esfera, que não se sabe onde começa e termina, os contrários ocupam o mesmo espaço, numa perfeita harmonização. Nessa harmonia, os opostos se coincidem do mesmo modo que o princípio e o fim, o quente e o frio (pois o frio é o mesmo quente quando muda) ou subir e descer um caminho. Nas palavras de Heráclito, “o caminho que desce e o caminho que sobe são os mesmos”.

Com um mundo em constante transformação, o cenário de um mundo pós-apocalíptico pode significar uma “evolução” da espécie ou mesmo um extermínio ocasionado por uma praga natural ou arma biológica. A causa da contaminação ainda não foi revelada na série, e esse parece ser um tema de menos importância, já que a temática central são os relacionamentos entre os personagens e seus conflitos internos e externos, que vem à tona a cada novo episódio.

Assim, o aparente conflito entre mortos e vivos pode vir a desencadear um equilíbrio no futuro, vez que os opostos atingirão um estado de estabilidade. A própria situação de mudança é um resultado natural no conceito de devir.

The Walking Dead e a Moral

the walking dead daryl

Constantemente vemos os personagens da série arrombando veículos, portas de lojas de conveniências, igrejas e casas à procura de comida ou qualquer outra coisa que possa servir para a sobrevivência própria ou do grupo.

Que mal há em cometer pequenos furtos ou arrombamentos diante de uma situação de caos e emergência ou se não há um proprietário “vivo” para reclamar seu direito? Na verdade, nenhum.

Contudo, também vemos essas mesmas práticas em embates com outros sobreviventes ou outros grupos de sobreviventes. Nesses casos, o chamado estado de necessidade é (mesmo inconsciente) invocado para uma questão maior: a preservação da vida.

Porém essa preservação se dá em detrimento de outra vida. Assim, a série aborda uma importante questão: até que ponto você praticaria crimes (roubos e assassinatos) para preservar sua própria vida? Qual é o seu limite? A prática de assassinatos para salvar sua vida vai de encontro com suas convicções morais? O estado de necessidade é uma prática “fácil” para todas as pessoas?

Algumas pessoas prefeririam morrer a tirar a vida de alguém. Outras, sem pensar duas vezes, poderiam adotar a prática de homicídio como mero ato de preservação de sua própria vida. Qual seria sua atitude?

The Walking Dead e a Ética

the walking dead hershel

Ética é a reflexão sobre os valores morais vigentes na sociedade, é o questionamento desses valores, pois, nem sempre, a moral da sociedade revela o sentimento de justiça que deve permear as relações sociais. Nesse sentido, atos de amputação (com o intuito de evitar que um possível vírus letal se espalhe pelo corpo da pessoa mordida), suicídio e até canibalismo são vistos na série.

O personagem Hershel Greene (interpretado por Scott Wilson) teve a perna amputada por Rick para evitar uma infecção. Em uma sociedade em caos, nem sempre dispomos do tempo necessário para avaliar nossas atitudes e decisões tomadas às pressas podem salvar vidas, da mesma forma que acabar com elas.

the walking dead eugene

Eugene Porter (interpretado por Josh McDermitt) usa da mentira para se manter vivo. Como é uma pessoa sem qualquer preparo físico e facilmente morreria em um confronto com um zumbi, diz a todos que tem condições de descobrir a cura se o levarem para a capital americana. O local escolhido, como o próprio personagem releva, refere-se ao fato da capital Washington, para ele, ter centros de pesquisas e pessoas capacitadas para contornar o estado de crise.

the walking dead oath

O episódio The Oath, o terceiro dos “Webisodes” (histórias inéditas do universo de The Walking Dead lançadas somente na internet), mostra os personagens Paul e Karina buscando abrigo após um ataque de uma multidão de zumbis. Ao chegarem a um hospital que não foi invadido, encontram uma bondosa médica que oferece uma saída para toda a dor que estão passando: suicídio.

Até que o ponto o suicídio seria uma saída para uma situação de crise? O episódio em questão aborda as dores pessoais e o sentimento de vulnerabilidade diante de situações que não temos controle. Será que podemos ir contra um fato da vida que é mais forte que nós?

A respeito disso, podemos aprender um pouco com a filosofia de Sêneca (4 a.C. – 65). O filósofo explica que o que nos causa impaciência é pensarmos que as coisas devem ser exatamente como queremos, como se fôssemos capazes de moldar o mundo que nos cerca de acordo com nossa vontade.

É preciso aceitar o fato de que não temos o controle sobre todas as coisas. É como se estivéssemos, segundo o filósofo, presos a cadeias de acontecimentos, como cachorros presos a uma carroça em constante movimento. A correia é longa o bastante para nos dar certa liberdade, mas não a ponto de irmos para onde bem quisermos ou alterar o rumo da carroça.

Passado algum tempo, o cachorro percebe que para ser feliz ele terá que, em determinadas situações, aceitar o movimento da carroça e seguir seu rumo, pois se debater durante todo o percurso só lhe trará desconforto, tristeza e raiva, por não conseguir mudar a situação de acordo com suas vontades.

Mas, diferentes de um cachorro, possuímos a racionalidade suficiente para perceber o que podemos ou não mudar em nossas vidas. Talvez não sejamos capazes de alterar o rumo das coisas, mas somos plenamente capazes de alterar nossa atitude em relação aos acontecimentos. A filosofia de Sêneca nos dá uma orientação, um norte para ficarmos tranquilos mesmo em situações adversas.

The Walking Dead e a Religião

the walking dead gabriel

No segundo episódio da quinta temporada somos apresentados ao personagem Gabriel Stokes (interpretado por Seth Gilliam), um padre que estranhamente sobreviveu ao apocalipse zumbi. Logo depois é revelado que ele se abrigou em sua igreja e fez uso dos mantimentos que lá estavam em detrimento da sobrevivência de seus fies.

Em uma situação de perigo real nossas convicções religiosas são suficientes para nos fazer decidir pelas opções moralmente corretas? No decorrer da trama, o padre confessa a Rick que escutou os gritos dos homens, mulheres e crianças do lado de fora da igreja enquanto eram devorados pelos zumbis.

Até que ponto a religião ou a crença em uma força superior é importante em um mundo onde a moral se mostra distorcida?

O filósofo Immanuel Kant (1724 – 1804), propõe ao longo das obras Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Crítica da Razão Prática e Crítica do Julgamento uma filosofia moral, declarando existir uma obrigação moral única e geral que explicaria as obrigações morais dos indivíduos, o que ele chamou de imperativo categórico: “age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal”.

Em sua obra A Religião nos Limites da Simples Razão, o filósofo propõe que o comportamento religioso seja baseado na razão. Nesse sentido, propõe uma religião natural, que Kant considera como sendo a única e verdadeira, compatível com a razão. Kant reduz a religião à moral, justificando a existência da igreja e do comportamento religiosa a essa religião natural.

The Walking Dead e a Vida em Sociedade: o desejo de sobrevivência determina nossas escolhas?

the walking dead amizade

Em The Walking Dead vemos pessoas com personalidades totalmente opostas, que, provavelmente, nunca se conheceriam ou mesmo se encontrariam se não fosse pelo contexto da trama.

Assim, podemos verificar que algumas das relações humanas, mesmo em nosso cotidiano, são baseadas no desejo de sobrevivência. Se não são baseadas na premissa de sobreviver a uma situação de caos, essas relações se baseiam nas relações de trabalho, sentimentos de proteção e de poder.

The Walking Dead e a Filosofia Cartesiana: seria tudo um sonho?

the walking dead sonho

Algumas pessoas acreditam que toda a trama de The Walking Dead seria fruto de um sonho do personagem principal, Rick, que ainda se encontra em coma no hospital. Assim, todos os acontecimentos que ele vivencia, seriam, na verdade, uma ilusão (argumento derrubado pelo próprio criador da HQ).

Para filósofo francês René Descartes (1596 – 1650) não devemos aceitar nada como verdadeiro se houver a possibilidade, por menor que seja, de que não seja. Descartes analisou diversas coisas em que acreditava e se questionava se o mundo era realmente aquilo que ele acreditava ser. Como poderia ter certeza de que tudo não passava, na verdade, de um sonho?

Descartes queria encontrar alguma coisa em que pudesse ter certeza. Ele não poderia confiar em seus sentidos, pois eles também poderiam enganá-lo. Será que podemos confiar plenamente em nossos olhos? Será que eles captam a realidade das coisas ou apenas aquilo que conseguimos entender como sendo real?

Em função dessas incertezas, o filósofo descarta a possibilidade de confiarmos plenamente em nossos sentidos, pois eles são enganosos. Como posso saber que não estou sonhando agora? Como posso saber se estou realmente lendo este texto? Você pode ter certeza por causa do detalhamento do que está vivenciando neste momento, mas quantas pessoas não tem sonhos ricos em detalhes. Você mesmo já deve ter tido sonhos assim!

Você agora pode experimentar dar um beliscão em seu braço, mas isso não prova nada, pois também pode estar sonhando que acabou de se beliscar. Talvez, segundo Descartes, exista um “demônio” que controla suas atitudes, ou talvez seu corpo nem exista. Talvez você seja um cérebro dentro de um frasco com eletrodos ligados lhe passando uma falsa impressão de realidade.

Mas ainda que sejamos meros cérebros sem corpos, como exercemos o ato de pensar, temos, necessariamente, que existir, conclui Descartes. Algo que não existe, não pode pensar. A conclusão do filósofo foi “cogito ergo sum” (“penso, logo existo”). Assim, se estou pensando, tenho que existir.

Você até pode duvidar que possua um corpo que consegue ver e tocar, mas duvidar de sua existência é auto contestador, pois, quando duvidamos que existimos, provamos que existimos como seres pensantes.

Isso pode parecer simplório para você, mas a filosofia de Descartes mostrou que os céticos, que duvidavam de tudo, estavam errados.

Assim, concluímos nossa singela análise da relação da Filosofia com essa aclamada série televisiva que, apesar de muitas pessoas darem de ombros, talvez pelo fato de possuir uma superprodução e mostrar mortes um tanto quanto violentas, tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos e sobre as relações humanas.

Um olhar mais apurado (que é justamente a proposta da Filosofia) revela que The Walking Dead conquistou seu espaço e cativou milhares de fãs no mundo inteiro por conter uma trama bem elaborada centrada em personagens profundos e em suas relações interpessoais, e não apenas em um bom roteiro. Este é, sem dúvida, seu diferencial.

The Walking Dead elenco

Renato Collyer

Amante da Filosofia e da arte do pensar.

Graduando em Ciências Sociais e História. Formado em Direito. Mestrando em Direito. Pós-Graduado em Política e Sociedade, Direito Público, Direito Ambiental e Educação Ambiental. Possui cursos de formação complementar em Ciência Política, Direitos Humanos, Sociologia Contemporânea, Filosofia, Argumentação Jurídica, Formação Docente para Professores de Direito, Direito Municipal e Urbanístico, Ações Constitucionais, Legislação Ambiental e Gestão Ambiental.

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